No último dia 10 de maio, uma senhora ilustre do Noroeste do Estado do Rio completou 127 anos, idade oficial em seu registro. Mas, reza a lenda, que sua existência é muito mais remota, algo em torno de 1829. Em todo esse tempo, usou vários nomes e sobrenomes. Já foi Porto Alegre, já foi freguesia de Nossa Senhora da Natividade de Carangola, rendeu homenagem às Armas Brasileiras na Guerra do Paraguai quando se chamou freguesia de São José do Avaí e elevou-se à categoria de Vila de Itaperuna.
Em todo esse tempo, viu muita coisa acontecer…
Viu primitivos habitantes assistirem atônitos, um famoso desertor da milícia do Exército, desbravar suas terras e transformá-las na maior produtora da cultura cafeeira da época. Desde muito cedo, presenciou as atrocidades humanas e viu este mesmo solo ser manchado de sangue, quando José de Lannes Dantas Brandão, o desbravador, foi morto por seus escravos em 1852. Dos moradores rudimentares que aqui habitavam, ficou a origem de seu nome atual, Itaperuna, que vem da linguagem indígena e significa “Caminho da Pedra Preta”.
Em 10 de maio de 1889, a então jovem senhora, ainda carregando o nome de vila de São José do Avaí e já mostrando seus rebeldes traços, nasceu definitivamente para o mundo e em pleno regime monárquico, tornou-se a primeira Câmara republicana do país. Em dezembro do mesmo ano, enfim, torna-se de fato, Itaperuna.
Itaperuna se recorda hoje, com o saudosismo típico de quem viveu naquela época, dos passeios de trem e do charme da velha estação que, para a tristeza dela e de muitos, não foi preservada. Vestiu-se elegantemente para a famosa e grandiosa “festa de maio”. Era frio, calçava botas e se esforçando bem, ainda consegue sentir o cheiro e o sabor das maçãs do amor, que coloriam as barracas de guloseimas em todo o entorno do Parque de Exposições. Parque este, que também já não existe. Foi embora junto com a grandiosidade da festa.
E por falar no que já não existe mais, um suspiro profundo vem acompanhado da lembrança das tardes de domingo, das bandeiras tremulantes e das mãos dadas com o pai, nas arquibancadas do Estádio Jair de Siqueira Bittencourt, o Jairzão. Das memórias dos jogos do seu “mengão” contra o time da cidade, das partidas memoráveis de grandes times contra o Porto Alegre e depois, contra o Itaperuna, só ficaram as ruínas. Ruínas que permanecem lá, para lembrar dia após dia, para quem viveu e para quem passa o que fizeram da nossa memória e o que estão fazendo do nosso presente.
Muros mal demolidos nos permitem ver ao longe um passado glorioso. Muros mal demolidos nos mostram o descaso com esta jovem senhora de 127 anos. Muros mal demolidos não são pontes que nos levam para algum lugar, são restos de uma história, são entulhos que além de fazer nosso presente feio, nos geram incertezas sobre um futuro belo.
Em seu aniversário, Itaperuna não tem muito o que comemorar. O cenário das empresas e fábricas que fecham, que vão embora, das milhares de família que sofrem com o desemprego, dos buracos nas ruas, do descaso com a memória, não ficariam bem em um álbum de fotografias. Itaperuna prefere não registrar esse presente, sente vergonha. Mas enquanto sopra as velas do bolo, vai desejando um futuro melhor e sonhando com um lugar muito mais gracioso para se criar os filhos e passear com os netos…
Parabéns Itaperuna! Dias melhores virão.
Por Dariany Silgom – Jornalista; Editora, repórter e Comunicadora em Mídias Digitais.