A Andrade Gutierrez assinou um novo acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), desta vez para delatar a existência de cartel em duas obras da Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro: a recuperação ambiental do Complexo Lagunar e a mitigação de cheias no norte e noroeste fluminense.
Em Itaperuna estava programada a construção de uma barragem com cerca de 271m de comprimento e 24m de altura, capaz de reter cerca de 14,6 bilhões de litros de água. Um canal de desvio de 7,2km de extensão com escavação de 1,5 milhões de metros cúbicos, incluindo diques de contenção, enrocamentos, cortina atirantada e construção de duas pontes e um túnel escavado em rocha.
Já no trecho urbano, seria ampliado o escoamento das águas do Rio Muriaé com a construção de diques de gabião e diques de aterro.
A investigação foi aberta pelo Cade porque, em julho de 2013, ÉPOCA havia adiantado o resultado da concorrência do Complexo Lagunar por meio de um anúncio publicado em classificados, cujo resultado se confirmou com a vitória do consórcio formado por Andrade, OAS e Queiroz Galvão.
A Andrade, que já havia se tornado delatora na Lava Jato, assinou com o Cade um novo acordo na última terça-feira (27), desta vez sobre as obras da Secretaria do Ambiente do Rio.
No acordo, a Andrade revelou que OAS, Queiroz Galvão, Odebrecht e Carioca Engenharia fizeram acertos para dividir entre si as duas obras, trocar informações sensíveis para as concorrências, combinar os preços e as condições das propostas. Os contatos entre as empresas para os acertos foram realizados no período de 2012 até maio de 2014, segundo as informações fornecidas pela Andrade.
Entre as provas de corroboração foram apresentados e-mails com agendamento de reuniões entre os executivos das empreiteiras, para tratar justamente do cartel.
Orçada em R$ 673 milhões, a recuperação do Complexo Lagunar da Bacia de Jacarepaguá foi uma obra preparatória para a Olimpíada do Rio, com o objetivo de despoluir lagoas da região. Em 11 de junho de 2013, ÉPOCA publicou um anúncio cifrado adiantando o resultado da licitação, que só foi divulgado em 17 de junho. A reportagem revelara também que a perdedora na primeira licitação, a Odebrecht, acompanhada da Carioca Engenharia, levou outro contrato de valor próximo, em uma concorrência que também ocorreu sem muita disputa efetiva. Tratava-se das obras de mitigação das cheias no norte e noroeste fluminense, orçadas inicialmente em R$ 601 milhões.
Da redação do JBN – Por Aguirre Talento/Época