As mortes violentas que, infelizmente, dão ao Rio de Janeiro a fama de ser um dos estados mais perigosos do país têm tido mudanças nas últimas décadas. Se antes, os crimes de assassinato se concentravam na capital, agora este tipo de violência se espalhou pelos demais municípios fluminenses.

O fenômeno, chamado de interiorização, não é exatamente novo, mas um estudo feito recentemente pela Fundação Getulio Vargas (FGV) que analisou cada uma das áreas das delegacias mostra em números a intensidade do aumento desses casos no interior de 2003 a 2018, na contramão do que tem acontecido na capital.

O levantamento calculou um índice que permite ver a tendência geral de cada região nesses 16 anos. Ou seja: quanto, em média, o número absoluto de mortes cresceu ou diminuiu naquele local por ano no período, excluindo variações bruscas.

Enquanto a capital tem quase todo o seu território marcado por uma diminuição moderada (até 5% de queda ao ano) ou acentuada dos óbitos violentos (mais de 5%), o resto do estado tem diversas áreas com um movimento de crescimento.

As altas mais intensas no interior ocorreram em quatro cidades: Paracambi, Porto Real, Casimiro de Abreu e Miracema – a campeã, com um aumento anual de 7% na letalidade violenta.

Para o sociólogo David de Mello Neto, responsável pela pesquisa feita pela Diretoria de Análises de Políticas Públicas (DAPP) da FGV, a principal explicação para a interiorização é a expansão populacional e econômica das áreas.

“Houve uma estagnação da economia na capital e um crescimento no interior. Isso gera mais mercado de drogas ilegais, que quase sempre acompanha disputas violentas pela hegemonia dos espaços”, comenta. Falando das quatro cidades que mais pioraram, por exemplo, ele cita a criação de um parque industrial da montadora Peugeot-Citroën em Porto Real no Sul do estado, que transformou a região em um importante polo automotivo. Em Miracema, no noroeste fluminense, facções do tráfico de drogas começaram a aparecer.

Outra explicação apontada frequentemente é a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em favelas da capital a partir de 2008, que teria causado uma migração de criminosos para a região metropolitana e para o interior do estado.

Fonte: Folhapress