A TRAIÇÃO DE JUDAS!
Laércio Andrade de Souza
Questão que sempre atormentou o articulista desde os tempos de ‘coroinha’, foi como interpretar o posicionamento de Judas na traição de Cristo.
Ora, se Deus é onisciente, onipotente, onipresente etc., sabia ,que viria uma criatura ao mundo que trairia Seu filho Jesus Cristo, enviado para salvar o mundo e pregar a ‘Boa Nova’.
Seria possível a traição sem Judas? Ou ele dispensável?
A questão tem fundo teológico que o articulista se atreve, mais por amor ao debate, ciente de sua limitação nessas questões.
Entretanto, examinando as escrituras, hoje penso que a presença de Judas, nessa história, apenas facilitou a prisão de Jesus! A crucificação de Cristo ocorreria com ou sem o “traidor!” De um modo ou de outro! Já estava escrita a partir da argumentação de Caifás “É melhor que um inocente morra ou que se sacrifique toda uma nação!”
A questão central era como prender Cristo, matá-lo e ‘sumir’ com seu corpo como fizeram com os “Amarildos!” no Rio de Janeiro nos últimos dez anos!
O Sinédrio (O Congresso Nacional de lá!), já estava” convencido!” pela argumentação nefasta de Caifás! Bastava um meio prático para subornar um mentecapto para a tarefa, e conseguir o ‘vil metal!”
“ Trinta moedas de prata” seriam suficientes para conquistar um traidor no meio dos seguidores mais próximos de Cristo, e assim assegurar o êxito da macabra empreitada!
Mas voltando a questão central: Estaria Judas predestinado a vir ao mundo só para cometer tão abominável tarefa? Pensamos que não. Embora o Criador tivesse ciência que Judas trairia seu único Filho, Ele não o privou do livre arbítrio, nem o predestinou ele e todos nós, para o mal! “O mal, sendo um desequilíbrio, uma desarmonia, uma falha, só pode provir da criatura que se afasta livremente da lei de Deus” , como assinalava o grande teólogo Dom Marcos Barbosa, que eu acompanhava ainda jovem, seus ensinamentos diários na Rádio Jornal do Brasil! Deus permite o mal sem ser sua causa. E dele e ( até mesmo nós) pobres mortais, podemos tirar uma coisa boa, como ponderava o mestre Alceu Amoroso Lima, . O mal que nos atinge parte essencialmente de nossos inimigos mas ‘Nossos inimigos, no fundo transformam em nossos amigos, pois apontam nossas falhas, nossos erros, omissões etc nos possibilitando corrigi-los, dizia o mestre Alceu!
Interpretes superficiais e mal avisados buscam em obscura passagem de profetas, no antigo testamento, e, no novo, a assertiva de Cristo: “Um de vós há de me trair!”. Episódio na última ceia! E Judas,( ousado), pergunta: “Serei eu, mestre?” E Ele responde: “Tu o disseste!”
Pedro, ansioso para elucidar a questão, pede a João (o discípulo que o mestre mais amava (!) estando ao lado de Jesus na última ceia, que perguntasse. O Mestre não relutou: ‘Aquele a quem eu der o primeiro pedaço de pão!’
Ora, então Ele, verdadeiro Deus e verdadeiro homem sabia antecipadamente que iria ser traído por Judas!
“ Só que na etiqueta oriental essa oferta era o último sinal, apelo de amizade e distinção”, como recordava Dom Marcos Barbosa para demover o traidor de seu no exercício do livre arbítrio! Mas Ele acrescentaria ainda outro apelo mais forte, quando recebeu, já no Jardim das Oliveiras, o “beijo” de Judas, identificador do Cristo e questionado por Este disse:”
Amigo, porque vieste?” O que valeu da erudita escritora Gabriela Mistral, a indagação: “Porque traíste o Mestre com um beijo, símbolo do carinho, do amor, afeto?”
Mas a questão não para aí: Se Deus não é causado mal, e apenas o permite, ele antecipadamente tinha conhecimento que aquele ser que viria ao mundo iria traí-lo!
Como resolver a questão que a tantos atormentavam e creio ainda atormenta , como o subscritor desse modesto artigo?
Na visão agostiniana, “… o conhecimento antecipado que Deus tem de nossas ações não destrói nossa liberdade!” Saber o que uma pessoa vai praticar um mal não nos capacita de evitar que ela o pratique! O que podemos fazer é tentar de toda a forma demovê-la de tal intento e isso Cristo fez com maestria( por pelo menos três vezes!) e se não o fizermos cairemos no ‘crime de omissão’ ,tão praticado por nós em muitas circunstâncias, e que, parodiando Vieira no sermão da Sesquisagésima Sexta, fulminou esse crime com uma condenação exacerbada: “O omisso é pior que o ladrão. Este pode um dia se arrepender: O omisso não! Ele estará sempre a se desculpar : Não tenho nada com isso, não me diz respeito, não sou responsável… etc. etc.” Muito comum em nosso comportamento social
Concluindo, o pior crime de Judas não foi a traição de Cristo mas descrer no perdão, na misericórdia de Deus, que tudo pode, tudo ama, tudo perdoa, enforcando-se!
O resto é coisa para os teólogos!
O autor é membro fundador da Academia Itaperunense de Letras, cadeira ‘14’ que tem como patrono regional, pe. Hubert Lindelauf, e, como referência nacional, Alceu Amoroso Lima.