O mês de fevereiro nem chegou ao fim e mais de 45 mil brasileiros já morreram este ano de doenças cardiovasculares, segundo o “cardiômetro” da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Essas doenças são líderes de mortes no país, respondendo por cerca de 30% de todos os óbitos. Em busca de aumentar as formas de prevenção, um estudo publicado este mês revela um novo parâmetro para determinar quem são aqueles com mais risco de desenvolver problemas cardiovasculares. A pesquisa foi divulgada na revista científica “JAMA Cardiology”.
A conclusão dos pesquisadores é de que quantidades mínimas de cálcio nas artérias coronárias já aumentam o risco de doenças. Antes, acreditava-se que apenas um escore de cálcio — medida usada para esse mineral — maior que 300 poderia causar algum dano, mas este novo estudo mostra que bem menos do que isso já é arriscado. Se a pessoa detectar que tem algum escore de cálcio ainda jovem, pode tratar e evitar problemas do coração mais tarde.
O cardiologista Marcelo Hadlich da Sociedade Europeia de Cardiologia e médico do Richet Medicina & Diagnóstico, explica que a existência de cálcio nas artérias do coração está muito relacionada ao envelhecimento delas, o que é chamado de arteriosclerose. Quanto maior a quantidade de cálcio nas artérias, maior o risco de a pessoa ter algum problema cardiovascular. No entanto, em vários casos pode haver um envelhecimento precoce, levando uma pessoa ainda jovem a apresentar o quadro — ou o início do que pode vir a ser uma arteriosclerose.
— A grande novidade trazida por esse estudo é que pessoas de cerca de 30 anos já se beneficiam desse tipo de exame [que mede o escore de cálcio]. Quando conseguimos identificar ainda cedo que o paciente tem alguma calcificação, temos mais recursos para intervir — afirma ele. — Segundo o estudo, mesmo com 100 de escore de cálcio, o que antes consideraríamos baixo, a pessoa já está em risco.
Ele esclarece que um indivíduo sadio, em tese, tem zero de escore de cálcio. Mas os médicos costumam considerar uma margem aceitável de calcificação dentro das artérias, sem que isso necessariamente signifique risco cardiovascular. Com a nova pesquisa, porém, essa margem fica mais reduzida.
— O escore de cálcio é o principal instrumento para se identificar o risco de uma doença cardiovascular — pontua Hadlich. — Por isso é tão importante estarmos atentos a esse parâmetro.
Parecido com uma tomografia, o exame utilizado para verificar a quantidade de cálcio dentro das artérias já é feito no Brasil há cerca de 30 anos, mas ainda não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Em clínicas particulares, custa de R$ 300 a R$ 600. Mas a tendência é que o preço diminua, segundo Hadlich.
No ano passado, segundo o “cardiômetro” da SBC, a soma das mortes estimadas no país chegou a mais de 340 mil. De acordo com a entidade, as doenças do coração matam duas vezes mais do que todos os tipos de câncer, quase três vezes mais do que os acidentes e mortes violentas e seis vezes mais do que todas as infecções, incluindo as mortes por Aids.
*Fonte: O Globo