Pesquisadores alemães apresentaram nesta sexta-feira (18), um seminário na prefeitura de Itaocara, no Noroeste Fluminense, onde apontam os resultados de uma pesquisa inédita feita no interior fluminense para recuperação de áreas degradadas (RAD). Técnicos da Emater-Rio e Pesagro-Rio, apoiadores do trabalho, também participaram do encontro, que contou ainda com a presença de produtores rurais.
A pesquisa, que utiliza conhecimentos de bioengenharia, é um dos resultados do Intecral, projeto de cooperação técnica entre o Programa Rio Rural, da Secretaria estadual de Agricultura e o Ministério de Educação e Pesquisa da Alemanha. Por meio dele, pesquisadores europeus desenvolvem soluções tecnológicas sustentáveis para otimizar o dia a dia em pequenas propriedades rurais do estado.
Na agenda do evento, também está uma visita a uma das propriedades estudadas, na microbacia Valão do Santo Antônio, em Itaocara. Durante dois anos, a área, localizada às margens da rodovia RJ 116, foi base do projeto piloto de preservação ambiental, executado por pesquisadores da Universidade de Leipizig, na Alemanha. Com apoio de parceiros estrangeiros, como a empresa alemã Vita 34, especializada no manejo de solos, além de instituições brasileiras, os investigadores europeus construíram terraços agrícolas em nível – espécies de rampas niveladas –, e plantaram mudas de árvores nativas e leguminosas.
Quando se fala em recuperação de áreas degradadas, a técnica mais empregada são as curvas de nível, que permitem o escoamento gradual da água de chuva, o que, na prática, diminui os casos de erosão. A novidade trazida pelos pesquisadores alemães é justamente a “barreira verde”, pois, uma vez que as mudas são plantadas bem próximas umas das outras e em diferentes níveis, as árvores já crescidas terão força para impedir o escoamento de água da chuva, além de ajudarem a fixar nutrientes importantes para a saúde do solo, tornando-o mais resistente e fértil.
Assim como outros municípios da região Sudeste do Brasil, Itaocara enfrenta o problema dos deslizamentos de terra. A erosão é um dos grandes reflexos de práticas agropecuárias executadas de forma irresponsável durante várias décadas, como a pecuária extensiva. Esse é um dos motivos pelos quais o Noroeste Fluminense é a região com maior degradação ambiental do estado do Rio de Janeiro, com a presença de apenas 3% de vegetação nativa, segundo relatório da Fundação SOS Mata Atlântica.
A degradação traz prejuízos econômicos aos produtores rurais, além de danos socioambientais, como deslizamentos, assoreamento dos rios, enchentes, redução da biodiversidade e encolhimento da área para plantio. A atuação dos pesquisadores alemães teve o desafio de superar esses problemas e melhorar a qualidade de vida dos agricultores, promovendo o equilíbrio entre as técnicas agropecuárias utilizadas e a preservação dos recursos naturais.
Sobre o Intecral
O Projeto Intecral (Integração de Ecotecnologias e Serviços para o Desenvolvimento Rural Sustentável no Rio de Janeiro) atua há três anos na agricultura familiar fluminense, e já está em sua fase final. Com investimentos de R$ 9 milhões do governo alemão, promove estudos nas regiões Norte, Noroeste, Serrana e Baixada Litorânea do estado.
Entre os temas estudados, destacam-se o sistema agrossilvipastoril – combinação de horta, pasto e floresta no mesmo terreno –, governança e monitoramento da qualidade da água, além da recuperação de áreas degradadas – foco do evento desta sexta-feira.