Quem nasceu e foi criado até o final dos anos 90, cresceu em suas margens, em algum momento certamente mergulhou em suas águas em dia de família reunida no passeio na roça,  na bagunça animada da turma de amigos no sábado ensolarado, no maravilhoso encontro com a natureza, na contemplação de sua beleza ou no banho gelado que lavava a alma e refrescava o corpo dando alívio ao calor que castigava e ainda castiga.

Quantas histórias suas águas levaram ao encontro do mar. Quantas vezes matou a sede de tanta gente e nos dias de enchente, mostrou o seu poder pegando de volta o que antes das modernas construções já foi seu leito. Dias tensos em que parecia clamar por respeito.

Majestoso, o Rio Muriaé nasce na Serra das Perobas, em Minas Gerais e como todo bom mineiro, vem descendo quietinho e matuto, cruzando fronteiras de estados e trazendo vida as pequenas cidades. Ah! As cidades! Ingratas cidades!

Do rio retiram seu sustento, abastecem suas casas e indústrias, se refrescam no calor intenso, e em agradecimento, exterminam sua existência a cada década que passa. Destroem suas matas ciliares em nome da cobiça, despejam seus dejetos, intoxicam tudo o que é vida ao seu redor. As cidades estão matando o Rio Muriaé.

Seu crescimento desenfreado e a ganância dos homens que as habitam, desconhecem ou fingem desconhecer as leis de preservação ambiental. Suas matas ciliares viram pasto, suas margens invadidas por concreto, por lixo, esgoto e toneladas de descaso.

Há relatos de que desde a década de 70, movimentos de proteção tentam salvar o rio em vão. São parados na barreira quase intransponível do desinteresse político e da corrupção.

Hoje, observando o fio d’água que corta a cidade, seco, prenúncio de uma morte anunciada, aplica-se perfeitamente a célebre e mais atual do que nunca, frase do Cacique Seattle em sua carta de 1855, enviada ao então presidente dos Estados Unidos, Francis Pierce:

Quando o último rio secar, a última árvore for cortada e o último peixe for pescado,
eles vão entender, que dinheiro não se come”.

 

Por: Dariany Silgom