Medições em rios do Norte e Serra fluminense ficarão disponíveis na internet para consulta

A água é um tema de interesse mundial. Sua qualidade – ou a falta dela – se reflete em várias áreas, como alimentação, lazer e produção industrial. No interior fluminense, estudos sobre a água têm se tornado cada vez mais importantes. E agora alguns rios do estado passam a contar com tecnologia europeia de ponta para o monitoramento da qualidade desse líquido tão essencial à vida. Assim será possível mapear áreas com níveis críticos de poluição.

Quatro estações de monitoramento da qualidade da água acabam de ser instaladas nos municípios de Nova Friburgo (Rio Grande), São Fidélis (Rio Dois Rios) e Campos dos Goytacazes (Rio Muriaé e Rio Paraíba do sul). Os equipamentos, de alta precisão, são os primeiros no estado a funcionar totalmente de forma automatizada, além de fornecerem dados mais complexos e em tempo real.

A instalação dos instrumentos de monitoramento faz parte de um projeto piloto do Intecral (Integração de Ecotecnologias e Serviços para o Desenvolvimento Rural Sustentável), parceria do Programa Rio Rural, da Secretaria de Agricultura do estado do Rio de Janeiro, com o governo da Alemanha. Há três anos, pesquisadores estrangeiros viajam ao interior fluminense para identificar gargalos produtivos e propor soluções tecnológicas que respeitem o meio ambiente. No caso da água, a opção foi pela instalação das estações. Os equipamentos, que representam investimento de quase R$ 500 mil, foram desenvolvidos por empresas alemãs e doados ao governo do estado.

Gestão da qualidade da água no Brasil

De acordo com dados da Agência Nacional de Águas (ANA), um dos maiores desafios do Brasil é fazer avaliação permanente da qualidade da água. Apesar de existirem mais de 1.300 pontos com equipamentos específicos instalados, eles não fornecem dados para uma avaliação completa, elencando apenas temperatura, oxigênio dissolvido, pH e condutividade (quantidade de sal). Segundo a ANA, uma avaliação mais detalhada e contínua se torna difícil, pois exige esforço de logística (coleta, armazenamento e transporte) para que as amostras de água cheguem aos laboratórios. Além disso, não há procedimentos padronizados no país para a coleta e preservação das amostras, o que significa que duas instituições podem ter resultados diferentes no mesmo trecho de um rio.

As sondas instaladas nas regiões Serrana e Norte fluminense trabalham de forma avançada. Além dos dados básicos da água, elas obtêm outros doze tipos de indicadores, como nível de turbidez (água barrenta), carga de amônia (indicador de bactérias) e clorofila (sinalizador de poluição).

“Quanto melhor a qualidade da água, menos se gasta para tratá-la. Esses dados poderão ser utilizados pelos órgãos gestores dos recursos hídricos, como os comitês de bacias hidrográficas, as concessionárias de água e poder público”, explica Juan Ramírez, pesquisador de Gestão de Recursos Hídricos, da Universidade de Ciências Aplicadas de Colônia, na Alemanha.

Monitoramento hi-tech e impactos na agricultura

As estações funcionam de maneira simples. Sensores (pequenos  bastões de quase 25 centímetros) fazem a medição dos indicadores. Eles são encaixados em uma sonda, que fica mergulhada na água. A sonda se liga a uma caixa receptora, em terra. Os fios da sonda são protegidos por uma tubulação de aço para evitar que sejam danificados.

Os dados são atualizados de hora em hora e enviados, via internet, para um servidor na Alemanha. Um software interpreta os dados, transformando-os em relatórios que poderão ser acessados por qualquer interessado no assunto. “Isso é importante para o meio ambiente, porque  teremos  informações sempre em tempo real. Se houver poluição, temos que corrigí-la”, explica Peter Eichinger, engenheiro da empresa alemã responsável pela instalação dos equipamentos.

Já o pesquisador Juan Ramírez enfatiza que os relatórios devem trazer melhorias para a agricultura. “Imaginemos que temos níveis elevados de condutividade. Isso é uma informação preciosa para o produtor. Se ele souber disso, vai deixar de fazer irrigação com essa água, pois o cultivo não se desenvolve nessas condições. Além do mais, no longo prazo, sal em excesso no solo pode causar desertificação”, diz ele.

Para o secretário estadual de Agricultura do Rio de Janeiro, Christino Áureo, as estações de monitoramento representam um marco na gestão racional do uso da água. “Elas permitem que estejamos na vanguarda do monitoramento hídrico, fortalecendo as ações de sustentabilidade”, afirma.

Temporariamente, o gerenciamento de dados dos rios fluminenses será feito na Europa e, futuramente, no Brasil. A fabricante alemã Seba Hydrometrie também mantém estações de monitoramento da qualidade da água em países como China, Zâmbia e Arábia Saudita.

Fonte: Ascom