44 anos da fertilização in vitro: entenda como a evolução da técnica aumentou as chances de sucesso da reprodução assistida
25 de julho é marcado pelo nascimento do primeiro bebê de proveta no mundo. No Brasil o primeiro nascimento foi no Paraná, em 1984.
O dia 25 de julho marca a data do nascimento do primeiro bebê de proveta do mundo, a britânica Louise Brown, que completa 44 anos de idade. Foi a primeira pessoa gerada em laboratório após diversos estudos e tentativas médicas. A data do aniversário de Louise marca uma das maiores conquistas da medicina: a fertilização in vitro. Desde então, mais de 8 milhões de bebês de proveta nasceram ao redor do mundo, segundo dados divulgados em 2018 pela Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE). Segundo o médico ginecologista e especialista em reprodução assistida com mais de 30 anos de experiência em técnicas de fertilização, Ricardo Beck, as evoluções ao longo dos anos aumentaram a qualidade e as chances de sucesso do procedimento para milhares milhares de casais que sonham em ter um filho “A incubadora usada na primeira tentativa de fertilização in vitro, lá em 1978, era muito precária. Não existia, nessa época, meios de cultura apropriados para manter esses materiais genéticos e nem o embrião. Foram necessários muitos ajustes para que os médicos conseguissem alcançar a condição ideal para que o embrião pudesse se desenvolver. Hoje temos tecnologias super avançadas que permitem simular a condição perfeita do útero, aumentando as chances de sucesso da fertilização”, explica Beck. No Brasil, o primeiro nascimento foi em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, no Paraná, em 1984. Entre os anos de 2012 e 2019, foram mais de 265 mil ciclos de fertilização in vitro realizados no país, segundo o 13º Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões, o último divulgado pela ANVISA no início de 2020. Caso de sucesso Confira abaixo as seis principais conquistas da reprodução assistida desde 1978: Micromanipulação Essa é a técnica mais moderna para fazer a fecundação do óvulo pelo espermatozóide em laboratório. “Na fertilização assistida clássica, os espermatozóides eram colocados em uma placa ao redor do óvulo para que, então, houvesse a fecundação. Já na micromanipulação, os espermatozóides são selecionados para ver quais têm o maior potencial de fecundação, e cada espermatozóide é colocado no interior do óvulo por meio de uma injeção intracitoplasmática do espermatozóide”, diz Beck. Todo esse procedimento é feito por um embriologista especializado com o auxílio de um equipamento chamado de micromanipulador. Com essa técnica, é possível obter melhores resultados na formação dos embriões. Incubadoras e meio de cultura Logo após a fecundação, o embrião é colocado em incubadoras, ou meios de cultura, para se desenvolver até que fique pronto para ser transferido ao útero da mulher. A embriologista Elisângela Bohme, que trabalha com o médico Ricardo Beck há mais de 15 anos, afirma que a principal evolução está na simulação das condições internas do útero. “Hoje nós temos incubadoras que monitoram o desenvolvimento do embrião 24 horas por dia, e transmitem em tempo real para a embriologista de plantão. Qualquer alteração na temperatura e quantidade de CO2, por exemplo, é notificada imediatamente para que possa ser corrigida sem prejudicar o crescimento dos embriões”, explica Bohme. Filmadora Atualmente é possível assistir as células se dividindo dentro da incubadora, por meio de uma filmadora que transmite imagens em uma tela de computador. Dessa forma, o embriologista pode acompanhar todo o processo evolutivo do embrião, prever a evolução das estruturas e avaliar se é um embrião saudável, tendo como base, por exemplo, quanto tempo ele leva para fazer a divisão celular. Congelamento de embriões Segundo Ricardo Beck, a evolução nos congelamentos tem sido essencial para o processo de reprodução assistida, e afirma que os resultados hoje são muito melhores do que há 10 anos. Para se ter uma ideia, somente em 2019, foram congelados mais de 99 mil embriões no Brasil, segundo o último relatório da ANVISA. “Na fertilização in vitro cada embrião é valioso e, há alguns anos, quando havia sucesso na transferência de um embrião, os demais eram descartados porque não tinha onde guardá-los. Mas hoje não! É possível guardar os embriões e mantê-los congelados, para aumentar as chances do casal de terem um segundo ou terceiro filho no futuro sem terem que passar por todo o processo de FIV novamente”, explica Beck. Congelamento de material genético Essa é uma etapa anterior à fertilização in vitro e serve para preservar a fertilidade de homens e mulheres que irão passar por um tratamento oncológico, como quimioterapia, por exemplo, e mulheres que não tem previsão de gravidez antes dos 40 anos. “O congelamento de óvulos vem como forma de preservar a qualidade e quantidade do material genético. Sabemos que no caso das mulheres, a fertilidade tende a diminuir após os 35 anos, então quanto antes os óvulos forem congelados, melhor. Assim, quando houver o desejo de uma gravidez, o material é descongelado e a fertilização in vitro pode ser feita normalmente”, diz Ricardo. O material genético coletado, assim como os embriões não usados, são colocados em cápsulas de nitrogênio líquido, a uma temperatura de 196º negativos, sem que haja qualquer dano ou prejuízo. Estudo genético Também chamado de biópsia embrionária, esse é um procedimento que tem por objetivo identificar entre os embriões aqueles que carregam, em seu material genético, doenças hereditárias, podendo manifestá-las já no útero ou após o nascimento. Pais que têm doenças genéticas, ou caso de síndrome de Down na família, podem optar por esse estudo genético. Dessa forma, é possível transferir para o útero apenas os embriões saudáveis. |