Itaperuna vive um cenário de retrocesso industrial.
Mais uma notícia triste pegou de surpresa os moradores do município de Itaperuna nesse ano de 2016: o fechamento da Fábrica Boechat por decreto de falência. A notícia caiu como bomba para os funcionários depois que um mandado de lacração e arrolamento de bens foi fixado nos portões da fábrica, em 27 de fevereiro. Nesses quatro meses, pouca coisa mudou. A justiça indicou um administrador para acompanhar a fase de inventário, todos os bens ainda serão avaliados para depois irem para leilão, mas com a crise financeira, acredita-se ser difícil encontrar um investidor para adquirir máquinas específicas, terreno e outros bens, que ainda estão no interior do imóvel.
A falência da fábrica de peças de freios fundada em 1968 por José Boechat Borges, ilustra bem o cenário de retrocesso industrial e econômico da cidade. Quando fundada, foi uma das protagonistas de um futuro promissor. Empreendeu, gerou empregos e sustentou famílias durante décadas, alimentando sonhos e contribuindo diretamente para a elevação socioeconômica do município. Seu fechamento foi o último suspiro do progresso, mais uma indústria entre tantas outras que encerraram suas atividades em nossa cidade.
Fábio da Silva Reis, de 36 anos, foi encarregado durante 12 anos na empresa e contou ao JBN como foi sua experiência e o que representou o fim dos trabalhos na fábrica:
“Tínhamos muitas amizades lá dentro e não era um lugar ruim de trabalhar, apesar da grande poluição ambiental e sonora foi por um bom tempo um lugar onde a convivência com diversos tipos de pessoas até chegava a nos divertir e esquecer dos problemas pessoais. Mas as coisas ficaram difíceis demais por atrasos de pagamentos e por deixarem de cumprir compromissos. Isso foi péssimo para a cidade de Itaperuna”, relatou.
Já Willian Marins Fernandes, de 25 anos, três deles dedicado ao trabalho na fábrica, falou sobre a queda da indústria e o cenário de desemprego que ficou.
“Foi meu primeiro emprego onde aprendi bastante e conheci várias pessoas. O fechamento da fábrica foi uma coisa até difícil de explicar, porque havia ali várias famílias que dependiam de seu funcionamento. Quando começaram a atrasar os salários, fizeram vários cortes, inclusive cortaram os planos de saúde. A situação ficou precária. Foi quando simplesmente nos deram a única opção de que, quem não estivesse satisfeito, que pedisse demissão. Aos poucos as peças não chegavam mais e a queda da produção era visível. Comigo saíram mais de 80 funcionários. Até hoje vejo amigos que saíram da fábrica e não arrumaram outro emprego, alguns sobrevivem de “bicos”. A situação de desemprego piorou e está muito difícil, principalmente em Itaperuna”, lamenta.
De acordo com o advogado da empresa, Reinaldo Azevedo, a fábrica está penhorada pela justiça. Cerca de 300 ex-funcionários estão aguardando o levantamento dos bens para o leilão. A partir daí, se houver um comprador, a prioridade é pagar, primeiro os ex-funcionários, depois a União, Estado do Rio de Janeiro e município e, após, os credores habilitados (aqueles que juntaram seus títulos de crédito junto com o processo de falência), e, por fim, os credores não habilitados.
“Todos os ex-funcionários, automaticamente, fazem parte do processo e receberão seus direitos. Eles receberam o seguro desemprego e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Esse é um processo demorado, terão mesmo que esperar”, disse Reinaldo, que lembrou que todos os bens, inclusive pessoais, máquinas, produtos prontos para a entrega, carros e motos ainda estão no imóvel, que está sob segurança da Polícia Militar.