Desde as mais remotas épocas o homem vive uma constante luta:
A princípio lutou contra a hostilidade do meio, e foi obrigado a procurar um abrigo que lhe assegurasse a sobrevivência; encontrou as cavernas. Mas, para habitá-las, teve ainda que lutar contra seus primitivos moradores, os animais, expulsando-os.
Conseguindo um teto, veio a luta para a aquisição de alimentos, vestuário, etc.; e travou-se então o combate mortal pela sobrevivência entre homens e animais. Mas em meio de todas essas lutas, de todas essas competições, entre o homem e a natureza física, entre o ser racional e o irracional, predominava na mente do ser humano o desejo fundamental e ardente de paz. Então ele começou a procurar um caminho, uma fórmula para resolver seu problema sem lutas; e passou a domesticar esses animais.
Foi a predominância da inteligência sobre a força. Numa breve trégua de um encarniçado combate, o guerreiro feroz e indominável perguntaria a si mesmo: “Quando haverá paz. Será hoje, amanhã, ou demorará anos?” Ali bem perto, um companheiro de luta interroga o outro: – Quais são os seus planos para depois da guerra? Isto evidencia que o homem não é partidário da guerra, mas da paz; ele viu-se forçado a enveredar pelo caminho da violência primeiramente para sua defesa; depois, para ocorrer às suas necessidades.
Por estas e outras razões vemos, no folhear as páginas das obras de história, que a paz é a regra; a guerra, exceção. – Mas haverá um meio para atingirmos uma paz duradoura? – perguntar-me-ão as inteligências um tanto pessimistas, levando-se em conta estarmos atravessando um período estritamente revolucionário de nossa história, onde o choque de interesses gera a violência e, com o intuito de combater a violência, outros empregam a força que não é senão outra violência. Mas se atentarmos bem o problema, verificamos que embora muito complexo, não é insolúvel, visto que o ideal de paz é inerente à natureza humana e a sua solução é esperada e desejada por milhões de seres ávidos de paz.
Porém esta não se alcançará em termos definitivos sem compreensão recíproca, sem renúncia a idéias e preconceitos e, em última análise, sem a vigorosa consciência de sua vital necessidade. Já teria mesmo havido solução, se: um terço dos recursos empregados nas lutas fratricidas desde tempos não muito longínquos, fosse utilizado para o fortalecimento de ideais pacíficos, nas escolas, ginásios, universidades e na opinião pública.
Se, uma mínima parte dos recursos ontem e hoje empregados na elaboração e processo da chamada guerra psicológica e da revolucionária, cujo objetivo não é outra senão subverter a ordem, semear o ódio entre irmãos e torcer o rumo do progresso para saciar os interesses escusos de uma minoria prepotente, fosse empregada para eliminar a fome, debelar as doenças, o analfabetismo de seus próprios povos; Se, um décimo do dinheiro utilizado no fabrico de armamento, de bombas atômicas e dos complicados engenhos nucleares para a conquista da lua e do cosmo, fosse aplicado para incrementar as pesquisas do ártico, na oceanografia, essa maravilhosa ciência promissora de grandes riquezas, e outras tantas; aí já estaríamos adquirindo a melhoria do padrão social humano, uma das grandes causas de revolta, e consequentemente melhores condições para as massas trabalhadoras.
Mas os homens do poder, em sua maioria, cegos na ambição de sobressair-se, vivem a querer mais, sempre mais para satisfazer o seu egocentrismo e dos povos que dirigem não levando em conta o seu semelhante, não importa o número a condição social ou os ditames da razão. Se lessem estas minhas idéias, Russel me chamaria de herói, Mao Tsé Tung, um louco indesejável; Kennedy, um idealista; os cientistas espaciais obcecados, um retrógrado.
Mas digo eu, de que valem as guerras, se elas só trazem desgraças? De que valem as conquistas científicas espaciais, se no mundo ainda morre gente de fome e frio; se as doenças mais simples, como a ancilostomíase dos países tropicais, ainda dizimam milhares de crianças e adultos? Para demonstrar desprezo pelo ser humano, quando ele deveria ocupar o centro de todos os debates, pois ele é a célula que compõe a estrutura mundial, basta considerarmos as cifras dos dizimados pela Segunda Guerra Mundial, que conheço apenas pelos livros, pois nasci em tempo de paz, milhões de sacrificados só porque a pretexto da superioridade de uma raça ou de um nacionalismo hipertrofiado, uma insignificante minoria alimentou o sonho louco de conquistar o mundo para si.
Mas virá a pergunta: – Como combater este estado de coisas, esta doutrinação corrosiva, que estão submetidas as massas por meio das mais baixas ideologias grandes responsáveis pelos atritos entre os homens? Instruindo, direi eu, disseminando por este mundo sempre ansioso de paz e liberdade, os supremos ideais pacíficos, indo à infância e à mocidade por todos os meios e modos; interessando nessa campanha de educação os credos religiosos sem distinção de diferenças doutrinárias; todas as associações e entidades, sem distinção de suas finalidades específicas; o cinema, a imprensa, o rádio e a televisão, o teatro, a literatura. Em suma, lançando, racionalmente, os fundamentos de uma consciência pacifista. Todos os meios devem ser utilizados neste trabalho do qual depende, não tenho dúvida do mundo. Para essa revolução pacifista, verdadeira rebelião dos espíritos, contaríamos com o apoio de organizações como a ONU, este notável parlamento de nações, que foi o primeiro passo. A ONU deve ser creditada uma grande soma de esforços para a manutenção da paz e remoção das causas de um terceiro conflito mundial.
Precisa-se, contudo, combater o problema na sua fase embrionária; depois de ganhar corpo tornar-se-á muito difícil ou mesmo impossível a sua solução. É urgente ampliar o raio de ação dessa organização mundial, além de incrementar os setores que tratam do desenvolvimento de países subdesenvolvidos. Instituir em seu meio novos núcleos para se atingir essa meta. Para tal ela contaria, por certo, com a ajuda dos países membros, que se incumbiriam de fazer a difusão literária e organizar internamente a campanha. Toda representação diplomática quando solicitada sobre aspectos de seu país, como turismo etc., enviaria, por exemplo, um folheto cujo tema seria a paz mundial.
Esse intercâmbio constante despertaria os povos generalizando o problema que ora atinge mais profundamente só as inteligências mais alertas, e surgiriam novos lutadores, novas campanhas e, em futuro não muito distante, estaríamos vivendo um clima de compreensão mútuo que é a predestinação suprema da espécie humana. Atingiríamos, assim, a paz por meio de uma revolução dos espíritos, como já disse, um novo e promissor período revolucionário, não para a destruição de vidas e civilizações, mas ao contrário, para conservar o patrimônio milenar da cultura e garantir a tranqüilidade geral. O numérico exigido para essa difusão seria conseguido através da ONU destinado a angariar fundos junto aos governos para essa campanha. Ou mesmo, elaboraria-se por exemplo, um plano de redução, digamos assim, de mil homens do efetivo de cada exército das nações participantes. Essa economia reverteria em benefício dessa campanha.
Que cem nações por exemplo, concordem com esse plano. Já se pensou no gasto mensal dessas nações com cem mil homens de suas forças armadas? Objetivo supremo para o qual devem ser convocados todos os povos e governos, será o desarmamento mundial, sonho de concretização dificílima para cuja concretização vale a pena lutar com tenacidade, fé e esperança. Isto é um vaga exemplificação, porque várias outras campanhas poderiam ser encetadas por agremiações como o próprio Lions Internacional, credor de incontáveis benefícios levados aos mais longínquos rincões do globo.
No Lions, como em outras organizações congêneres existe a certeza de que essas campanhas dariam certo, porque embora menos poderosas que a ONU, estão elas realizando, no campo social relativamente mais. Isto é exemplo de humanidade, de arrojo desses heróis anônimos que lutam sem esperar recompensas, que fazem o bem sem olhar fronteiras, e que a história irá por bem consagrá-las quando se der um balanço ao imenso esforço em prol da felicidade dos povos e de melhor entendimento entre as nações.
Eis o modesto mas ardente pensamento de jovem, pensamento sujeito a erros, já que para este mesmo problema se voltaram inteligências mais lúcidas e experientes de estadistas, filósofos, e papas, sem encontrarem eficaz receptividade as suas idéias e ao seu nobilitante esforço, prejudicado por preconceitos étnicos, interesses particulares, que creio eu, tenha sido a falta de conhecimento de interesse e de instrução dos povos, porque o mundo atual só tem um grande problema: a instrução das massas.
Devo repetir, com experiência em fatos recentes e na história, que não será nada fácil essas campanhas, e alcançarem em breve prazo o objetivo; mas como nada de sólido e perene se consegue realizar sem lutas, sacrifícios, persistência, fé, ainda mais em se tratando de uma vitória cujas raízes estão na destruição de velhos hábitos, de erros seculares e d desconfianças infelizmente alicerçadas em dolorosas experiências. Terminando, presto aqui minha homenagem entusiasta aos grandes lutadores pela paz: A Roosevelt com sua política de “Boa Vizinhança”.
A Monroe com sua doutrina. Aos papas, com a sua prestigiosa ação e suas encíclicas, como a mais recente “Cristi Matris Rosarii” de Paulo VI onde se aborda especificamente o tema da paz. A John Kennedy, trágica e prematuramente desaparecido e a outros valentes campeões que aplicaram seus esforços, sua inteligência, suas energias em prol da paz. E mais que a todos os lutadores, da antigüidade aos dias atuais, ao Pacifista dos Pacifistas, Jesus Cristo, cuja divina doutrina – o Cristianismo – veio inaugurar ao mundo, há dois mil anos, uma era radicalmente nova, de humildade, de fraternidade de amor.
E foi tal desejo e tal esperança de que a humanidade consiga esse objetivo, não importa o fator tempo, o que levou o autor deste trabalho, obscuro e anônimo lutador do grande exército da paz, modesto estudante secundário, a redigir esta composição. Pode bem acontecer que não tenha desenvolvido o tema nos moldes ideais, mas a alegria de ter pela primeira vez dissertado mais longamente sobre um assunto tão fascinante, tão sublime de interesses fundamental para todos os povos, sem distinção de raça, religião ou fronteira.
E por esta oportunidade levo ao Lions Clube Internacional a minha gratidão e a certeza de ao menos pela nobre intenção que me animou de ter contribuído para o êxito de seu concurso.
Para o mundo, a paz; Para os lutadores pela paz, o reconhecimento, a glória; e “Ordem e Progresso” permanentes para o meu querido Brasil.
N. da R.: composição vencedora no concurso “A paz é atingível” setor – Itaperuna – patrocinado pelo Lions Clube Internacional
Laércio Andrade de Souza
“O autor é advogado e professor em Itaperuna”
“Membro da Academia Itaperunense de Letras”