Dia Internacional da Esclerose Múltipla: especialista aponta carência de serviços na rede de saúde pública no RJ
• Atualmente, Niterói conta com dois centros especializados no atendimento à pacientes com esclerose múltipla;
• Estudos revelam que a prevalência média nacional da doença é de 18 casos para cada 100 mil brasileiros;
Rio de Janeiro, maio de 2021 – Não é de hoje que pacientes com esclerose múltipla (EM) sofrem com a carência de serviços médicos e hospitalares na rede de saúde pública. De acordo com o chefe de Neurologia do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Marcus Tulius, é notória a carência de especialistas e de exames na rede de saúde pública – um dos fatores que subestimam a prevalência da enfermidade no país. “Atualmente, o Complexo Hospitalar de Niterói oferece um ambulatório especializado, com centro de terapia infusional, equipe de neurologia 24h, suporte tecnológico para o diagnóstico com dois aparelhos de ressonância magnética e mais de 300 leitos de internação. Mas ainda são raros os centros médicos no Brasil que conseguem dispor de todo o capital humano e aparato tecnológico necessário no atendimento aos pacientes de EM. Diagnosticar a condição é um processo lento e complexo. Não existe um único teste ou exame que diz se você tem a doença. É preciso se basear na combinação de seus sintomas e nos resultados de diversas avaliações médicas. Além disso, é requisitado a disposição de recursos tecnológicos para o diagnóstico preciso, estrutura hospitalar para o tratamento parenteral da doença e suporte de internação para possíveis complicações”, avalia Tulius.
O neurologista ainda explica que, como os municípios vizinhos não contam com um serviço especializado, o CHN também acaba absorvendo pacientes do entorno. “Depois da capital, Niterói é a cidade com a maior disponibilidade de leitos hospitalares e com a maior estrutura médico-hospitalar da região, tanto pública quanto privada. O sistema de saúde da cidade também atende habitantes de municípios vizinhos como São Gonçalo, Itaboraí, Maricá e a Região dos Lagos”. E aponta a necessidade de um acompanhamento multidisciplinar. “A partir da constatação clínica inicial, esses pacientes precisam ser acompanhados de forma integral e linear, sendo recomendada uma abordagem multidisciplinar que contempla a reabilitação motora, fonoterápica e psicológica”, complementa.
A esclerose múltipla é doença autoimune, na qual o sistema imunológico ataca o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal). Os sintomas mais comuns são a fadiga, problemas de visão (diplopia, neurite óptica, embaçamento), motores (perda de força ou função; perda de equilíbrio) e alterações sensoriais (formigamentos, sensação de queimação). Devido sua diversidade de sintomas da condição, não é incomum o diagnóstico tardio. Por isso, no mês que marca o Dia Mundial da Esclerose Múltipla (30 de maio), Tulius ressalta a importância de uma ampla divulgação da EM, tanto para o público leigo quanto para o médico não-especialista. “Ações e campanhas que elevam a conscientização da população em geral, podem resultar em um diagnóstico mais precoce e uma melhor resposta aos diversos tratamentos modificadores atualmente disponíveis”, conclui.
Saiba mais sobre a esclerose múltipla¹²³: A esclerose múltipla é uma doença que compromete o sistema nervoso central. É um processo de inflamação crônica de natureza autoimune que pode causar desde problemas momentâneos de visão, falta de equilíbrio até sintomas mais graves, como cegueira e paralisia completa dos membros. A doença está relacionada à destruição da mielina – membrana que envolve as fibras nervosas responsáveis pela condução dos impulsos elétricos no cérebro, medula espinhal e nervos ópticos. A perda da mielina pode dificultar e até mesmo interromper a transmissão de impulsos. A inflamação pode atingir diferentes partes do sistema nervoso, provocando sintomas distintos, que podem ser leves ou severos, sem hora certa para aparecer. A doença geralmente surge sob a forma de surtos recorrentes, sintomas neurológicos que duram ao menos um dia. A maioria dos pacientes diagnosticados são jovens, entre 20 e 40 anos, o que resulta em um impacto pessoal, social e econômico considerável por ser uma fase extremamente ativa do ser humano. A progressão, a gravidade e a especificidade dos sintomas são imprevisíveis e variam de uma pessoa para outra. Algumas são minimamente afetadas, enquanto outras sofrem rápida progressão até a incapacidade total. É uma doença degenerativa, que progride quando não tratada. É senso comum entre a classe médica que para controlar os sintomas e reduzir a progressão da doença, o diagnóstico e o tratamento precoce são essenciais.
[1] Neeta Garg1 & Thomas W. Smith2. An update on immunopathogenesis, diagnosis, and treatment of multiple sclerosis. Barin and Behavior. Brain and Behavior, 2015; 5(9)
[2] Noseworthy JH, Lucchinetti C, Rodriguez M, Weinshenker BG. Multiple sclerosis. N Engl J Med. 2000;343(13):938-52.
[3] Cristiano E, Rojas J, Romano M, Frider N, Machnicki G, Giunta D, et al. The epidemiology of multiple sclerosis in Latin America and the Caribbean: a systematic review. Mult Scler. 2013;19(7):844-54.